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Por Alice Turibio
Imagine a seguinte cena: você acaba de adquirir o mais novo modelo de um smartphone. Abre a caixa com todo cuidado, afinal pagou uma pequena fortuna nele, remove os adesivos protetores e chega a tão esperada hora de ligar o aparelho. Mas você não sabe como ligar. Procura algum botão, alguma indicação de como ligar o aparelho e não encontra. A frustração vem aos poucos, até que você procura pelo manual. E depois de alguns minutos lendo o manual, descobre como ligar e finalmente tem a tão sonhada experiência de ligar o aparelho pela primeira vez.
Esse é um resumo do que chamamos de experiência de usuário. Todas vezes que usamos um produto ou adquirimos um serviço, desde comprar um novo smartphone, visitar seu lugar favorito para tomar um café ou até mesmo pedir uma comida para entrega em casa, estamos lidando com experiência de usuário. O botão do smartphone que fica ao alcance do seu dedo para facilitar o manuseio, atender o chamado quando o seu café fica pronto, o cuidado com que sua refeição é embalada quando você faz o pedido, tudo isso acontece graças ao design de experiência de usuário.
A experiência de usuário ou UX da sigla em inglês user experience é um termo muito comum hoje no mundo todo. O design da experiência de usuário vai além do produto que está sendo desenhado, é o design da interação do usuário com o produto ou serviço. Em outras palavras, é o processo que certifica que o usuário terá uma boa interação com o produto ou serviço que o fará se sentir bem. Aqui está a complexidade do UX: desenhar como a pessoa se sente ao usar um produto ou serviço.
Quando falamos de educação, o design da experiência de usuário não é algo muito comum. Educadores têm todo o cuidado de fazer o design da aprendizagem, porém com a chegada dessa nova realidade de aulas remotas, torna-se cada vez mais necessário pensar além da aprendizagem. Os problemas que enfrentamos hoje na educação, seja no ambiente presencial ou durante as aulas remotas, nos levam a repensar o papel do design da interação do “usuário”, no caso com o aluno e com o “produto” que estamos criando, que seria a aprendizagem em si. Ou seja, essa realidade evidencia a necessidade de criar novas e melhores experiências a partir da interação entre usuários e produtos da aprendizagem.
Um dos grandes desafios do design da experiência de usuário na educação está em definir quem é o usuário. No contexto educacional, os alunos são os usuários mais evidentes do produto da educação, mas os personagens desse contexto vão além do aluno. Temos os professores, a escola no papel dos líderes, gestores escolares e a comunidade, ou seja, o círculo familiar do aluno. Podemos ver com mais clareza o impacto do produto da educação em todos os protagonistas quando levamos em consideração a modalidade de ensino remoto. Por termos muitos usuários é possível criar uma boa experiência de aprendizagem? A resposta é sim, claro. Todos os usuários têm um objetivo bem definido: aprender. É dentro desse objetivo em comum que conseguimos desenhar a experiência no contexto educacional. O design da experiência do usuário começa e termina no diálogo de um objetivo em comum, que é a aprendizagem.
Uma vez estabelecido o usuário, ou seja, o diálogo entre os personagens envolvidos, conseguimos também quebrar um outro paradigma do design da experiência de usuário na educação: o desapego ao tradicional. Quando uma escola se prende ao modelo tradicional de ensino, onde todos os personagens se tornam agentes passivos, a educação fica engessada e não conseguimos fazer o design da experiência, pois não há interação ativa. Em palavras, o professor faz desse jeito porque a escola manda, a escola faz dessa forma porque a comunidade manda, a comunidade faz por este caminho porque os professores mandam e os alunos fazem desse jeito porque todos mandam. Vivemos por muitos anos nesse modelo escolar. E cabe uma confissão da autora aqui – era considerada uma péssima aluna por não aceitar esse modelo de educação -, mas nos dias de hoje cada vez mais se torna claro que essa forma de educar não se encaixa nos modelos da sociedade de hoje. Quando o foco se encontra no usuário, no diálogo entre os personagens do contexto educacional, a evidência da aprendizagem ativa e interativa se torna clara (evidente, esclarecido) e conseguimos fazer um bom design de experiência de usuário na educação.
Tudo que nos cerca hoje, desde nossos dispositivos eletrônicos, nossa caneca de café com a alça para não queimar nossa mão, a comida que chega com um recado escrito à mão pelo restaurante, indicando que alguém fez a comida com muito carinho, tudo isso faz com que tenhamos melhores experiências. Para concluir, o mesmo design de experiências que vimos em tudo que nos cerca deve estar presente na educação. Mais que tudo, afinal a escola, seja ela presencial ou remota, é onde nos preparamos para a vida real.
* Alice Turibio é coordenadora de projetos da Foreducation EdTech,
graduada em Letras, pós-graduada em UX Design e mestranda em Educação Profissional. Tem experiência em docência e design de experiência na educação.